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28.03.2008

Donghua Li lamenta politização dos Jogos Olímpicos

李东华-瑞士奥运代表团特使,在苏黎世中国公园
Legenda da foto: Donghua Li, attaché para os Jogos Olímpicos 2008 em Beijing, posa no Jardim Chinês em Zurique. (Keystone)

O apelo ao boicote dos Jogos Olímpicos teria conseqüências graves para os tibetanos, pois a opinião pública chinesa pode culpá-los pela anulação. Essa é a opinião do ex-campeão olímpico Donghua Li.

"Na realidade, os Jogos Olímpicos deveriam ser um vetor da paz e de comunicação entre os povos", afirma à swissinfo o atleta que conquistou para a Suíça em 1996 a medalha de ouro na disciplina cavalo com alça.

Portanto, é a situação inversa que prevalece atualmente: - "Algumas forças políticas exploram os Jogos Olímpicos para seus próprios interesses. Eu lamento bastante esse comportamento". Para Donghua Li é incorreto querer misturar política com o esporte. "Os problemas políticos prejudicam o esporte e, no final das contas, os próprios atletas".

O ginasta suíço de origem chinesa, instalado desde 1989 na Suíça central, ressalta que vê com bons olhos a realização dos Jogos Olímpicos e se mostra convencido de que a maior parte dos desportistas compartilha sua opinião.

Pequim, uma escolha política?

A comunicação entre os povos é um bom princípio, mas que, de fato, representa apenas um lado da medalha olímpica. O reverso dela é a realidade chinesa e seus problemas bem conhecidos em matéria de direitos humanos.

Quando, em julho de 2001, o Comitê Olímpico Internacional (CIO) escolheu Pequim como cidade-sede para a realização dos Jogos Olímpicos de 2008, a intenção visada era também política: uma melhor integração da China na comunidade internacional. Do seu lado, o Partido Comunista deixava claramente entender que a situação dos direitos humanos iria melhorar graça a vinda do evento.

No início de 2007, o CIO lembrou o caráter primordialmente esportivo dos Jogos Olímpicos, mas sem esquecer de reiterar suas exigências de respeito integral dos direitos humanos durante o período das competições. Desde então, várias ONGs como a "Human Rights Watch" ou Anistia Internacional não cessam de denunciar a atitude laxista do CIO em relação ao governo chinês.

Esperança de uma abertura

Seria mais conseqüente pleitear a anulação dos Jogos? "Se as competições são anuladas ou transferidas para outro lugar, isso não contribuiria em nada para a solução dos problemas políticos na China", reforça Donghua Li.

"Pelo contrário: enquanto os Jogos Olímpicos forem mantidos em Pequim, a atenção da opinião pública internacional estará voltada para a China".

Para os chineses, a realização do evento significará, sobretudo, a possibilidade de estar em contato com o mundo inteiro. Para o ex-campeão olímpico, essa esperança justificou seu apoio incondicional à realização dos jogos na China.

Li acredita que o boicote geral dos Jogos será inócuo. "Ele só irá prejudicar os atletas, que não têm nada a ver com o conflito político em questão".

Problema centenário

Donghua Li, que declara se sentir tão suíço como chinês, se abdica de dar uma opinião em relação ao conflito entre os tibetanos e as autoridades chinesas. Ele viveu mais de vinte anos na República Popular da China e foi confrontado aos problemas no Tibete desde os primeiros anos de escolaridade.

Posteriormente o ex-atleta teve ocasião de visitar o país e descobrir a complexidade da realidade política e social desse território. "Esse conflito é mais do que centenário. Hoje em dia, a maior parte dos chineses cresceu com a convicção de que o Tibete faz parte integral da China".

Essa crença pode servir de alavanca para sentimentos extremamente negativos em relação aos tibetanos caso os Jogos Olímpicos sejam anulados. "Os chineses podem acabar colocando a culpa na comunidade tibetana se isso ocorrer", argumenta Donghua Li.

 

PROTESTOS NA CHINA

Os recentes protestos de tibetanos foram reprimidos pelas autoridades chinesas através de repressão, prisões e campanhas de propaganda.

Durante a Páscoa ocorreram ainda alguns protestos isolados. Segundo fontes oficiais, o Tibete e as províncias vizinhas estão sob tranqüilidade.

Tropas do exército chinês cercaram vários mosteiros no Tibete. As estatísticas oficiais falam de 19 pessoas mortas durante os últimos protestos. Tibetanos que vivem no exílio elevam o número para cem e também mil detidos.

O governo chinês convidou alguns jornalistas para visitar o Tibete. Seus representantes acusam a imprensa ocidental de distorcer a realidade. Durante a visita, monges interromperam o programa oficial para acusar a repressão.


DADOS IMPORTANTES

Donghua Li nasceu em 1967 em Chengdu, grande metrópole no sul da China.

Em 1989, o atleta veio com sua esposa suíça para a Suíça. Cinco anos ele se naturalizou.

Em 1996, nos Jogos Olímpicos de Atlanta, Li ganhou a medalha de ouro para a Suíça na sua disciplina preferida, o cavalo com alça.

Cavalo com alça ou cavalo com arções é um aparelho utilizado na ginástica artística, apenas por atletas do sexo masculino, composto de um corpo prismoidal mais estreito na parte inferior, montado horizontalmente sobre uma base, com duas alças sobrepostas ao corpo.

Na mesma disciplina, Donghua Li foi campeão chinês em 1987, campeão suíço em 1994, campeão mundial em 1995 e campeão europeu e olímpico em 1996.



swissinfo, Alexander Künzle

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